Ritualização do Carnaval
Na nossa comemoração do Carnaval não podiam faltar os mascarados nem o desfile pela Alameda da Universidade, acompanhado a par e passo pelas nossas famílias. Essa dimensão da alegria e do divertimento é, sem dúvida, muito importante para as crianças destas idades. Mas a nossa comemoração do Carnaval não fica por aqui. Há mais, muito mais, de acordo com uma ritualização fortemente investida por toda a Escola.
A nossa comemoração do Carnaval inclui outros rituais que decorrem da parte da tarde e envolvem todas as turmas da Escola. A azáfama começa antes do Carnaval, com o convite aos pais da Infantil para colaborarem na construção das máscaras com os seus filhos, e com o envolvimento das crianças na invenção dos cabeçudos, elaborados com materiais de desperdício.
Aqui que ninguém nos ouve, há que confessar qua os nossos cabeçudos ficam tão espetaculares que até nos faz pena termos de os queimar na fogueira que acendemos no recreio, da parte da tarde! Mas temos de o fazer para que o Inverno dê lugar à Primavera e o velho crie espaço para o novo, dando início a um ciclo de renovação relacionado com as estações do ano, a passagem do tempo e a caminhada em direção ao crescimento.
Antes de queimarmos os cabeçudos, as alunas e os alunos do 4.º ano leem o seu Testamento, que representa um culminar da sua passagem (para a maioria) de sete anos nesta Escola, no qual legam algo de especial e de significativo a todos os que permanecerão depois da sua saída, rumo a uma nova realidade. É sempre um momento muito emocionante a leitura do Testamento do 4.º ano, que nos deixa um sentimento generalizado de comoção.
Este ritual do Carnaval enquadra-se numa pedagogia que valoriza a perpetuação no tempo de uma série de festividades e comemorações cíclicas, baseadas nos ritmos da natureza e no património cultural ancestral. As cerimónias representam a ritualização que regula a passagem do tempo da infância, conferindo um ritmo ordenador à sequência temporal, alicerçado na duração, na continuidade e na permanência.
Os rituais ciclicamente repetidos são significativos para a construção e a densificação de uma narrativa de vida baseada na coerência, na estabilidade, na confiabilidade e na previsibilidade, alicerçada na noção de pertença a uma comunidade, na qual também há lugar e são bem-vindas a renovação e a inovação.